Obesidade
Por se tratar de um assunto tão presente em nosso cotidiano, e já considerado como um problema epidêmico, a obesidade é hoje um dos assuntos que mais produzem informações e soluções conflitantes, sem muito compromisso com causas e efeitos reais¹ .
É provado cientificamente que a obesidade é um dos maiores problemas do desequilíbrio corpóreo e que muitas vezes está diretamente relacionado com carência nutricional. Dietas restritas ou medicação, que tem como objetivo inibir o apetite, somente agravam o problema.
Sabemos que o estado emocional interfere no fisiológico, como por exemplo, a ansiedade, que aumenta o apetite principalmente por carboidratos. Porém, muitas vezes, a causa dessa ansiedade pode ser fisiológica, ou seja, gerada pela falta de matéria prima adequada para formar os neurotransmissores que a evitam; falta de energia para os neurotransmissores exercem sua função, ou mesmo carência de determinados nutrientes, como o ômega 3, necessários para a comunicação neuronal. Portanto, muitas vezes, as causas dos transtornos no comportamento alimentar podem ser geradas pela carência de determinados nutrientes que controlam tais funções. As dietas jamais resolvem estes problemas, ao contrário, o agravam ainda mais, fazendo com que, quando essa dieta, ou regime alimentar, for interrompida, os desequilíbrios voltem em dobro¹.
Antes de nascermos já estamos sujeitos à obesidade causada por carências nutricionais. Vários estudos mostram que na desnutrição intra-uterina do feto, principalmente a partir da 30° semana de gestação até o 1° ano de vida do recém nascido, há um aumento da sensibilidade para a proliferação de adipócitos (células de gordura). Se estas crianças receberem aporte alimentar maior que o necessário, nesta etapa pós-natal até o 2°ano de vida, a obesidade se desenvolve com muito mais facilidade, aparentemente devido a modificações induzidas nos centros reguladores de apetite, do sistema nervoso central. Estes estudos mostraram também que estas crianças têm uma maior incidência no aumento de resistência à insulina, diabetes mellitus tipo II, hipertensão arterial e doenças coronarianas. Mais uma vez, os estudos demonstram como a gordura se forma por uma defesa do organismo e pela garantia de sobrevivência¹.
A quantidade calórica é apenas um dos fatores que pode interferir na obesidade, porém, não é o único. Caloria é uma medida de energia, não é ela quem determina a qualidade da matéria prima que devemos ingerir. Por isso, a maioria dos casos de obesidade, não é resolvida unicamente com dietas restritivas. Emagrecimento efetivo é conseqüência de um organismo que funciona bem e, ao contrário do que se pensa, é comendo que se emagrece, na hora certa e de maneira adequada, podendo, desta forma, prevenir doenças e alcançar o melhor estado de saúde¹.
Hábitos alimentares adequados e a ausência de sedentarismo evitam o desenvolvimento da obesidade, principalmente mórbida. Mesmo que a obesidade seja hereditária, é cientificamente comprovado que a expressão do gene só se manifesta se o meio ambiente permitir, ou seja, 70% da nossa expressão genética é determinada pelo meio ambiente¹.
Devemos interferir nos hábitos e processos alimentares para efetivamente nutrir a célula, inclusive com isso dando suporte para fatores sobre os quais pouco podemos interferir como, poluição ambiental, estresse em geral, sobrecarga emocional (trabalho, relacionamento) entre outros¹.
Muitas vezes reclamamos que somos incapazes de nos controlarmos, que somos preguiçosos, pois sabemos aonde erramos. Nunca podemos nos esquecer que capacidade todos tem, porém, não existe “força de vontade” com o organismo em desequilíbrio, pois, quando estamos em desequilíbrio é difícil controlar, escolher os alimentos, ao contrário, corpo em equilíbrio, células nutridas, nós escolhemos e dominamos os alimentos.
Há um complexo sistema de mecanismos neuronais, hormonais e químicos que mantêm o equilíbrio entre a ingestão e o gasto de energia, mas com variações individuais. Isto explica porque pessoas diferentes, teoricamente com as mesmas necessidades energéticas, podem ter o mesmo consumo de alimentos e uma acumular gordura e a outra não. Por isso precisamos trabalhar com as variações, descobrir qual realmente é a raiz do problema, do contrário iremos percorrer a vida toda atrás da conseqüência, a obesidade. São os desequilíbrios que levam algumas pessoas a comerem mais do que precisam e/ou gastarem menos do que deveriam, é que devem ser investigados¹.
A preocupação com a vida saudável gera conceitos errôneos sobre como melhorar a qualidade de vida e promover a saúde, visto que a população assume recomendações sobre como se alimentar em revistas leigas divulgadas na mídia ou com profissionais não qualificados (não nutricionistas). Esta atitude promove uma série de erros na interpretação de como se deve proceder para melhorar o hábito alimentar e promover um adequado estado nutricional.
Esta realidade não pode ser desconsiderada e exige um cuidado especial na atenção oferecida pelo nutricionista que tem por objetivo promover a saúde de um indivíduo a partir de uma abordagem preventiva ou curativa.
O principal instrumento para a realização deste trabalho é oferecido por meio do planejamento dietético, que deve ser cuidadosamente elaborado depois de formulado os diagnósticos nutricionais, que por sua vez é elaborado após a avaliação nutricional.
Nosso hábito alimentar vem sofrendo mudanças importantes nos últimos 40 anos. A oferta de alimento está cada vez maior, porém, cada vez menos nutritiva e com maior participação de gordura trans e produtos químicos.2
Os desequilíbrios do organismo gerados pela sobrecarga do alto consumo de alimentos pobres em nutrientes podem comprometer no futuro a saúde das novas gerações.2
A distribuição da gordura corporal parece ser mais relevante para o desenvolvimento de fatores de risco para doenças cardiovasculares do que a quantidade propriamente dita, principalmente, a gordura localizada na região abdominal5. Neste contexto, sabe-se que a distribuição da gordura corporal nos homens é caracterizada como andróide, ou seja, maior acúmulo de gordura na região abdominal, enquanto que as mulheres apresentam uma distribuição do tipo ginecóide, sendo a localização da gordura, predominantemente, na região glúteo-femural.4
É provado cientificamente que a obesidade é um processo inflamatório, e que o próprio tecido adiposo tem a capacidade de produzir substâncias inflamatórias chamadas de citocinas, colaborando ainda mais com o aumento do peso.3 Por tanto é importante conhecermos os processos que estão envolvidos na gênese da obesidade, para não darmos suporte para o organismo produzir mais estas substancias. Um exemplo, é o consumo de alimentos industrializados ricos em corantes e conservantes, como por exemplo os alimentos light e diet, que quando não eliminados pelo organismo favorece estes processos inflamatórios.
Uma das conseqüências deste processo inflamatório, é a resistência à insulina, pois a presença de citocinas inflamatórias inibe a ação da insulina favorecendo o acumulo de gordura, principalmente na região abdominal.3 Onde explica que a obesidade não está necessariamente relacionada ao excesso de comida.
A obesidade abdominal é a pior obesidade para a saúde porque a resistência à insulina aumenta a atividade da enzima LPL (lipoproteína lípase – enzima lipogênica), levando ao aumento dos triacilgliceróis e diminuição do HDL-c e, conseqüentemente, a uma aceleração do processo aterogênico.
Portanto, é importante buscarmos os tipos de nutrientes que podem ser utilizados na dieta com a finalidade de reduzirmos essa resistência à insulina.(resumo). Atualmente há uma grande preocupação em retirar da dieta os carboidratos simples e com alto índice glicêmico, para evitar uma super produção da insulina, o que é uma medida correta. Porem sob a ótica da visão funcional, é muito simplório restringir simplesmente (e somente) a retirada de carboidrato com alto índice glicêmico. É importante introduzir outras estratégias que permitam “quebrar” a resistência à insulina.
Um outro processo importante e fundamental sabermos, é que o consumo de gordura não gera no indivíduo a saciedade central (cérebro). Eles aumentam a saciedade gástrica (estomago) estimulando o super consumo passivo de energia. Para aumentar a saciedade central tem que aumentar a serotonina (hormônio do prazer), diminuir o cortisol …, enfim há toda uma regulação hormonal, que só é capaz de ser controlada através de nutrientes (vitaminas e minerais), que atualmente nosso organismo esta sofrendo uma carência, por conta de maus hábitos alimentares e estresse.
Como pudemos perceber a obesidade esta totalmente relacionada com nosso estilo de vida, que atualmente está descontrolado por conta deste mundo capitalista em que vivemos e que nos gera uma sobrecarga e um incontrolável estresse. Por tanto vale a pena pararmos para refletir um pouco com o que estamos fazendo com a nossa vida e não simplesmente ficarmos buscando soluções para obesidade como se fosse receita de bolo, que passa de mão em mão e que para o vizinho da certo. Se não equilibrarmos nosso organismo, com uma alimentação personalizada para os nossos descontroles, ficaremos assistindo cada vez mais um aumento da obesidade mundial, mesmo com utilização de fórmulas de ultima geração. Priorize sempre sua a Qualidade de Vida.
Texto de reflexão
“Nos bebemos demais, fumamos demais, gastamos sem critérios, dirigimos rápido de mais, ficamos acordados até muito mais tarde, levantamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos muita TV e rezamos raramente.
Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores.
Nós falamos demais, amamos raramente e odiamos freqüentemente.
Aprendemos a sobreviver, mas não á viver; adicionamos anos a nossa vida, mas não vida aos nossos anos. Planejamos mais, mas realizamos menos.
Aprendemos a nos apressar, mas não a esperar.
Estamos na era do fast food, mas não da digestão lenta; do homem grande, mas de saúde pequena. Um momento de coisas boas na vitrine e de guloseimas na dispensa.
Essa é a era de 2 empregos e vários divórcios. Casas chiques e lares despedaçados; lucros acentuados e relações vazias.
Lembre – se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão aqui para sempre. Um beijo e um abraço curam a dor, quando vêm de lá de dentro.
Lembre – se de dizer eu te amo ao seu companheiro (a) e as pessoas que ama, mas em primeiro lugar se ame, mas ame muito.
O segredo da vida não é ter tudo o que você quer, mas sim querer tudo o que você tem e seu maior bem é seu corpo, por isso valorize – o.”
Adaptado por Carina Scapinelli – Nutricionista
Bibliografia
- ZILBERSTAIN B.; CARREIRO, D. Mitos e realidades sobre obesidade e cirurgia bariátrica, 2004 ed: referência ltda SP.(livro Denise)
- CARREIRO, D.; PASCHOAL, V. C. P. Doenças Crônicas não Transmissíveis e os Hábitos Alimentares da População Brasileira .Conselho Regional de Nutrição. Edição nº 81, janeiro/ fevereiro / março 2006, p26 -31. Revista CRN
- NAVES, A.; LOPES, T. Obesidade.Revista nutrição Saúde e Performance. Ano 7, ed. 29, 2006, p 36 – 43.(artigo Almaderma)
- OLIVEIRA,C. L.; VEIGA, G. V.; FISBERG, M. Obesidade na Infância e Adolescência como Fator de Risco para Doença Cardiovasculares. Revista Nutrição em Pauta. Ano IX, número 51, novembro/dezembro 2001, p 37 – 40. (obesidade infantil).